segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Se tu me esqueces

Quero que saibas uma coisa.
Tu já sabes o que é:
Se olho a lua de cristal, o ramo rubro do lento outono em minha janela, se toco junto ao fogo a implacável cinza ou o enrugado corpo da madeira, tudo me leva a ti, como se tudo o que existe, aromas, luz, metais, fossem pequenos barcos que navegam para estas tuas ilhas que me aguardam.
Pois, ora, se pouco a pouco deixas de me amar, de te amar, pouco a pouco, deixarei.
Se de repente me esqueces, não me procures, já te esqueci também.
Se consideras longe e louco o vento de bandeiras que canta minha vida e te decides a me deixar na margem do coração no qual tenho raízes, pensa que nesse dia a essa hora levantarei os braços e me nascerão raízes procurando outra terra.
Porém, se cada dia, cada hora, sentes que a mim estás destinada com doçura implacável, se cada dia se ergue uma flor a teus lábios me buscando, ai, amor meu, em mim todo esse fogo se repete, em mim nada se apaga nem se esquece, do teu amor, amada, o meu se nutre, e enquanto vivas estará em teus braços e sem sair dos meus.
Neruda
Na falta do que escrever, leio.

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