sexta-feira, 31 de outubro de 2008

DUALIDADE


Feito maré, ora me afasto, retraio e penso me guardar estando distante para, em seguida, regressar ocupando espaços, abraçando territórios e preenchendo vazios.
Feito estrada, busco atalhos, percorro distâncias, me perco em desvios na tentativa de liberdade, para, em seguida, perceber-me perdida sem seus sinais.
Feito chuva, ameaço, trago confusão e mudo o céu. Ora caio pesada, sem piedade; ora sou alivio em meio à seca. Dependo do chão que me recebe.
Feito vento, posso ser furacão e desarrumar, desordenar e destruir, mas me posso brisa que alivia dias secos tornando-os suaves e de paz.
Possuo extremos, desfaço-me em contradições e desejos imprecisos. Sou quem dá vida; sou quem a toma. Minha coragem se esvai ao primeiro “ai” que brote de mim; meu viço ressurge ao primeiro “oi” que venha de ti.
Sou força, energia e calor, sendo morte, fraqueza e friagem. Duas que em mim convivem, me desarmando quando se afastas e me tornando guerreira quando seu amor é presente, escudo a me proteger de toda e qualquer ameaça e arma capaz de combater toda e qualquer possibilidade de não ser feliz.

Amor é amor...

Hoje li uma matéria muito interessante sobre como o ser humano busca no outro um sistema imunológico complementar ao seu, a fim de gerar filhos geneticamente mais perfeitos e imunes a vírus. Segundo o estudo, detectamos tal complementaridade através do cheiro. Nos sentimos atraídos pelo cheiro daquele que completará aquilo que nos falta, no que se refere a defesas do corpo contra doenças ou viroses.
Fiquei aqui pensando se meu metabolismo é torto ou se o resultado deste estudo foi equivocado. Há quase oito anos me apaixonei por palavras, escritas por mim e para mim; me encantei, depois de alguns dias, por uma voz rouca, tão deliciosamente gostosa que me fazia perder noites de sono apenas para ouvi-la, sem nunca me cansar (por mais que a orelha doesse). Depois me encantei por um senso de humor afiado, uma inteligência apurada e um jeito de ver a vida de forma muito semelhante à minha.
O cheiro, esse só fui sentir após meses (e tenho que confessar que, até hoje, me faz viajar em lembranças e sensações), mas aí meu sistema imunológico já havia se rendido completamente e, ainda que o dele fosse exatamente igual ou que nada tivesse a acrescentar ao meu, já era bem tarde, a paixão era intensa e irremediável.
Não o escolhi pelo cheiro ou para complementar algo que me falta geneticamente, mas para preencher os vazios que existiam na minha alma, corpo e vida.
Me completa, me faz sentir amada e capaz de superar todas as dores que a vida, tão freqüentemente, deixa em minha porta.
Abandonei as águas, atraquei neste porto, onde penso permanecer até o último segundo do meu tempo, protegida e com a certeza de, por mais que, por vezes, tempestades e ventanias me afastem deste cais, é para ele que sempre retorno. É onde está minha casa, é onde sempre permanecerá meu coração.
Que a ciência explique o universo e o metabolismo dos seres vivos, mas o coração e os sentimentos, cabe a cada um saber aquilo que lhe move e encanta.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Ajuda

Houve um tempo em que eu escrevia sempre. As palavras vinham fáceis e meus dedos voavam pelo teclado, tentando acompanhar a velocidade dos meus pensamentos, que jorravam, fosse em momentos alegres ou de dor.
Perdi o ritmo, a dança, as palavras.
Quando alguém escreve, ainda que ninguém leia, tem a sensação de que compartilha com outros aquilo que lhe aflige ou alegra. Imagina que, em algum lugar, uma pessoa lerá, se identificará e aquilo servirá para que não sinta que sua dor é única, que existe a superação e a vontade de ser feliz retornará ao coração.
Quando alguém escreve, busca, através das palavras, esquecer que alguém lhe feriu, que muitas vezes o mundo é injusto e pessoas não são leais com outras pessoas. Ao invés disso, tenta mostrar que o futuro pode chegar mais rápido que qualquer um possa imaginar e que felicidade nem sempre é tão rara.
Quando alguém escreve, quer descrever o mundo, interior ou exterior, para que aqueles que ainda não o conheceram, ao menos tenham uma vaga idéia do que ainda existe.
Eu não sei mais escrever. Queria, e muito, colocar em palavras o vendaval de sentimentos que me assolam, mas não consigo. Não mais.
Assim, fico esperando que, em algum lugar, alguém escreva aquilo que preciso tanto ler.
Se alguém souber onde estão estes escritos, me avisem.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Nostalgia

Deve existir algum motivo! Motivos sempre existem, aprendi isso desde muito cedo.
Cada um sabe das suas dores e motivos. Não se age pelo acaso e, por mais que doa, há que se entender que todos possuem motivações para estarem ou simplesmente deixarem de estar.
Pode parecer tolice, mas sempre penso em conversas gostosas, despreocupadas, cheias de humor e penso no quanto a gente imagina que as pessoas permanecerão sempre. Mas depois elas somem, desaparecem na poeira da vida e, quando nos damos conta, tanto tempo já se foi. Que coisa!
Tanta vida já se passou, tantas novidades envelheceram sem terem sido contadas, divididas e, quem sabe, comemoradas.
A vida manteve seu curso, ela não pára, a não ser nestes pequenos e inquietos segundos, talvez minutos, quando me lembro sempre que algumas promessas não foram feitas para se acreditar, foram apenas palavras ao vento, leves como folhas que se vão, sem deixar a sombra de sua passagem.
Ainda assim, sempre que estes minutos surgem, me pergunto por onde andarão todos aqueles que um dia dividiram retalhos de suas vidas comigo e que também vislumbraram minhas cores e dores.
Fica sempre a certeza de que não perceberam o carinho que cultivei e a saudade que deixaram, mas fica sempre também a minha vontade imensa de que, mesmo longe, pensem em mim, ao menos um pouquinho.
Eu aqui imagino sempre que estão vivendo dias melhores...