quarta-feira, 8 de agosto de 2007

AS MUITAS FACES DE EVA

Estamos entrando em um tempo que muitos de nós acreditávamos não alcançar ou imaginávamos que seria naquele estilo “Jetson’s” de viver, mas que hoje se mostra exatamente igual àquilo que sempre assistimos. Pois é, o século XXI muito pouco acrescentou às nossas vidas no que diz respeito ao modo de pensar e agir dos simples mortais, em especial das mulheres, eternas seguidoras da grande mãe Eva.
Eu, longe de ser exceção, permaneço regra, ainda que tente, por vezes, mudar os tais padrões pré-estabelecidos centenas de anos antes que eu pensasse em nascer.
Sou mãe em período integral, professora em dois turnos e namorada em pequenos intervalos, quando é possível vencer a distância existente entre eu e o objeto do meu amor (acho que posso chamá-lo de objeto, afinal é de amor).
Como a grande maioria de mulheres que se separam, coube-me, a principio sem nenhuma discussão, a guarda e a responsabilidade de cuidar dos filhotes, afinal mãe é mãe e, de acordo com a minha, devemos esquecer que somos “alguém” enquanto eles não se tornem alguéns crescidos e independentes o bastante para nos abandonar.
Assim passamos os dias, eu e milhões de mulheres, a correr entre o trabalho, a família e a vida, muitas vezes sem nos perceber como pessoas dotadas de capacidade de dirigir-nos ou até mesmo de vontades e desejos que não incluam o universo familiar.
Não sei o que ocorre com as outras “batalhadoras” mas, a cada vez que me faço uma vontade (dessas que enchem a gente de prazer) termino me policiando para não deixar que o complexo de culpa me domine, afinal só pensei em mim e fui malvada com os pobres filhos que nem pediram pra nascer, que dirá possuírem uma mãe egoísta como eu. Daí a pouco estou brigando comigo e me dizendo que sou um ser humano e, como tal, mereço, e muito, ser feliz.
Vida complicada esta que nós, mulheres, vivemos...
Afora as pressões externas, ainda nos debatemos com aquelas que parecem ser inerentes a toda mulher que, como eu, já encerrou a casa dos 30. O corpo não é mais aquela gracinha da adolescência e quando o espelho nos retribui a imagem, ficamos a procurar ruguinhas, estrias e a terrível e sempre presente celulite. Falo de nós, mulheres comuns, que não têm tempo ou grana pra se dependurar num destes tantos centros de beleza que dão aquele “jeitinho” em tudo que está errado e as deixam “gatinhas” novamente.
Dos homens quase nada é cobrado no que diz respeito à estética. Desde que seja limpinho e cheiroso e sua barriguinha não caia metros pra frente, tudo é perdoado. Isso me leva a pensar se somos pouco exigentes ou eles é que são muito criteriosos quanto à beleza física.
Já saímos pra vida cheias de recalques e medos a nos povoar a pobre cabeça. Será que fico bem assim? Será que aquele tipo de lingerie me deixa melhorzinha? O que será que ele vai pensar ao ver-me nua? Oh céus, melhor ficar sozinha!!!!!! Aqui já foi metade da nossa auto-estima...
Se há um desentendimento, corremos a nos colocar como as grandes desajeitadas. Que será que fiz de errado? Ele era tão bonzinho!!!!! E lá se vai o restinho de amor próprio que tinha sobrado...
Morremos mil vezes a cada relacionamento mal sucedido, nos culpamos e juramos não permitir que outro lhe tome o lugar, pra daí a pouco estarmos novamente suspirando e achando que encontramos o eterno naquele que chega e entra sem pedir licença. E lá vai tudo começar novamente...
Vida de mulher é dura...
No trabalho temos o dever de mostrar nosso profissionalismo e competência. Ganhamos pra isso e as cobranças se fazem constantes, sem intervalos.
Em casa temos a obrigação de ser a mãe dedicada e amorosa, que somos mesmo, sem falhas ou descuidos. Ao final, a culpa de tudo é sempre nossa mesmo...
Nos relacionamentos, temos que ter compreensão, amor e sensualidade, independente de estamos à beira de um esgotamento nervoso, do contrário, o mundo taí cheinho de gatinhas malhadas e descompromissadas, sem o estressante papel de mãe-amante-dona-de-casa-profissional que nos cabe...
E, finalmente, dentro de nós, há um juiz feroz e impiedoso, que impõe seu dedo acusador a cada falha. Implacável e tenaz, é nosso pior inimigo. Juiz que não nasce conosco, mas surge a partir da educação retrógrada que nossas mães, mulheres como nós, nos incutem a cada dia de nossas vidas.
Tristes filhas de Eva que, mesmo se rebelando a cada dia de suas vidas, continuam a criar seus filhos para o exercício dos mesmos papéis que hoje condenam...

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