quarta-feira, 8 de agosto de 2007

NO DIA EM QUE PODIA TUDO

No dia em que podia tudo, tudo podia fazer
No dia antes do dia em que poderia tudo, se preparou para o dia seguinte com cuidado. Escolheu o que iria dizer às tantas pessoas que andavam atravessadas feito sapos gordos na sua garganta. Lavaria a alma e desentalaria todas dali.
Pensou onde iria, quem veria e o que faria ao rever cada um dos que escolhera. Não eram muitos, mas meia dúzia de palavras eram necessárias a cada um.
Já antecipava as caras assustadas das tantas pessoas que a olhariam, horrorizadas, imaginando-a louca de hospício. Que se danassem, ela podia tudo naquele dia; só naquele.
No dia em que podia tudo, seria amada como naqueles sonhos que embalou por algumas vezes, mas eles seriam verdadeiros, nunca ilusões.
Não haveriam distâncias, empecilhos ou qualquer entrave ao seu imenso anseio de ser verdadeira amada e, ainda que só durasse este dia, seria pra sempre.
No dia em que podia tudo, não iria trabalhar como fazia todos os dias. Acordaria tarde, ou talvez bem cedo pra aproveitar cada segundo, e ficaria a pensar nas tantas coisas inúteis que gostaria de fazer. Faria muitas delas, com certeza.
No dia em que podia tudo, nada de se preocupar com convenções sociais ou amenidades ditas aos vizinhos desocupados que pareciam dedicar a vida a lhe vigiar horários. Iria transformá-los em estátuas de sal para, logo após, derretê-los com muita água corrente. Sumiriam todos.
No dia em que podia tudo, queria ver de perto as pirâmides do Egito, os castelos ingleses, a encantada Madri e aquele coração, hoje escondido do seu. Desta vez desvendaria-o e, quem sabe, o fundiria ao seu.
No dia em que podia tudo, queria pouco, queria tanto.
Podia abrir mão de tudo isso e ficar só com o brilho daqueles olhos que lhe desvendavam a alma...

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