quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ESPELHO

A imagem que este vidro reflete não sou eu, mas uma sombra pálida e fria do vulcão que me transformo na sua presença;
A que vejo refletida na luz deste cristal é rascunho desbotado daquela que surge pulsante no cristalino dos seus olhos.
O espelho não mostra o sangue correndo, lava quente em minhas veias, quando seus olhos me chamam para um mundo que é tão nosso;
O espelho não reflete o desejo que se apossa da cada parte do meu corpo, toque alucinante das tuas mãos, que já conhecem de mim até o que ainda não descobri;
O espelho não devolve o som dos meus gemidos, entrecortados e desconexos, perdidos num dicionário que mais ninguém conhece ou entende;
O espelho não expõe a mulher primitiva, escondida em mim, que se liberta ao sentir seu cheiro e busca o contato da quentura do seu corpo;
O espelho não exibe meu eu selvagem, fera enlouquecida que arranha, morde e grita de prazer, pedindo mais e mais e mais...
O espelho, reflexo falso, me devolve apenas as máscaras que construí e mantenho intactas para o mundo, mas que se desintegram no momento em que me abre suas portas e me puxa para o meio deste furacão de prazer e êxtase.
A luz do teu amor é espelho fiel, único capaz de me refletir inteira e completa, pulsante e viva, enfim, mulher...

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