domingo, 12 de agosto de 2007

SENHORA DA TEMPESTADE

Choveu aqui. Muito. Torrencialmente.
Lançou raios e trovões pelos céus e escureceu a cidade. A energia resolveu ir-se embora, talvez com medo da fúria dos ventos que ameaçavam lhe arrebentar os fios. Paramos, eu e a cidade, para ouvir os sons da natureza que se manifestava descontrolada...
A noite desenrolou-se em ritmo constante de raios e chuva. Havia horas em que eu não sabia se acontecia aleatoriamente ou se era eu a provocá-los. Sentia-me Senhora das Tempestades...
Hoje, com o dia cinzento e triste, de ressaca depois de tanta energia descarregada, fico pensando coincidências e relações estranhas entre eu e a natureza. Provoco tempestades ou elas me provocam? Desprendo energias descontroladas, lanço chispas e machuco. Sou ferida. Perco as energias e tento desistir. Fraca e inerte, torno-me cinza e quase morro.
Não quero emoções fortes; não quero as decepções que o amor carrega consigo e que são inevitáveis nos tempos de ajustes e conhecimentos. Quero a calma do não sentir, do não amar e da dormência do corpo e espírito. Amar dói, eu sempre soube. Não fui moldada à isso.
Não me encaixo mais a estes padrões de comportamento, de sutilezas que já há tempos esqueci, de trocas que já não sei mais fazer. Não sei mais jogar, e perder é sempre inevitável, mesmo quando tudo conspira para que eu vença. Perco sempre e me esgotei nas tentativas inúteis de manter junto à mim aquilo que mais desejo.
Feito folha levada pelo vento que sopra neste momento, tudo que mais quero é levado pra longe...
Corro na tentativa vã de recuperar o que perdi, mas quando sinto que está ao alcance das mãos, o vento vem e leva tudo pra longe daqui...
Não quero mais correr... Estou cansada e meu pensamento agora se volta à questões de merecimento... Se o vento leva, é porque não me acha capaz de fazer feliz... Desacelero os passos e deixo que parta...
Fico olhando e nada farei para reverter essa partida... Não mereço que fiques...
Ainda é cedo pra tentar... Não estou pronta... Ficarei só e nesta solidão buscarei acalmar os raios que insistem em se mostrar nestas escuras noites e fazer os dias cinzentos ganharem brilho...

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