quarta-feira, 8 de agosto de 2007

CRÔNICA DO DESESPERO

Vai se chegando devagar, no inicio como um incômodo que parece coisa à toa, do qual facilmente conseguiremos nos livrar. Daí a pouco, parece-se com aquelas dorzinhas de cabeça, chatas mas persistentes, e que perduram o dia todo, sem que haja remédio capaz de espantá-la.
No dia seguinte, a coisa já toma proporção maior, o incômodo já é visível até aos mais distraídos que cruzam pelo nosso caminho. O olhar parece perdido, como se estivéssemos à procura de determinada avenida e nem fizéssemos idéia em que cidade fica.
O tempo, longe de aplacar estes sinais, evidencia-os dia a dia e, em pouco tempo, somos o retrato do desespero em sua forma mais crua. Trabalhamos mal, comemos mal, a vontade de vida e o brilho dos olhos esvai-se e parece impossível recuperá-los. Enxergamo-nos em nossa mais cruel e insignificante verdade: não somos nada, impotentes seres diante de fatos que não podemos controlar. Resta a dor e o desespero de ver-se afundando em areia movediça que nunca sufocará sua respiração mas, ao contrário, lhe fará vivo, vegetal e sofredor enquanto não cumprir seu tempo.
Fuga. A fuga é uma opção. Podemos nos refugiar no passado e nos alimentar das lembranças de tempos em que acreditávamo-nos fortes, alegres, amados e felizes. Época de tolices, ilusões , mas de aparente felicidade. Os tolos são felizes, dizem. Anseio o espírito cego, a desinteligência instalada em cada poro, impossibilitando o raciocínio e com ele esta claridade que, longe de iluminar, cega mais e mais.
Deserto de expectativas, aridez de sonhos, não há chuva no horizonte; a possibilidade de mudanças inexiste e o que resta a não ser o desespero?
Nada, também eu não quero mais nada; o nada é demais pra suportá-lo.

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