quarta-feira, 8 de agosto de 2007

DE MARTE, EU?

De tanto ser chamada de vulcão, furacão incontrolável e mais trocentos adjetivos que, no fim, servem sempre pra me chamar de pessoa incontrolável no que diz respeito a relacionamentos, resolvi fazer algo por mim.
Abri o site de uma livraria e garimpei alguns títulos de auto ajuda buscando, pela primeira vez e escondido de todos, algum titulo que me dissesse a receita de ser a mulher ideal. Cada resenha era um ataque de riso pelos milagres que prometiam. Desse jeito seria difícil eu me ajudar...
Dia seguinte, intervalo das aulas, sala dos professores lotada e eu sentadinha quieta (às vezes consigo) ouvindo fragmentos dos papos....
__ Meu filho andou 320 km na sua Bizz, em apenas 2 semanas. Ta de castigo, o pai uma fera............
__ Será que conseguimos alguém bem corajoso pra atirar bem no meio da testa da governadora???
__ Acho que fico sempre doente por falta de vida pessoal.......
__ Tenho este livro em xerox, vida de professora você sabe como é, mas fiz dele meu livro de cabeceira. Quando as coisas estão fora de controle, corro pra ler, você conhece?
Neste assunto eu me antenei. Que livro seria este? Acabei por descobrir que o referido era Mulheres são de Marte, Homens são de Vênus.
Dia seguinte, quando dei por mim, já estava entregando meu cartão de crédito ao dono da livraria e saindo feliz com meu livrinho de receitas. Me sentia como o alquimista que finalmente descobriu a fórmula da transmutação. Estava salva, ôba!!!!!!
Era fim de ano e viajei sem os filhos pra casa da praia com meu livro mágico. Lá eu teria concentração pra aprender tudinho que ele me ensinaria e depois era só praticar, afinal não ia estar sozinha; meu maior motivo para a compra do livro estaria lá também.
Comecei aprendendo que somos ondas e eles são elásticos. Eu devo ser alguma daquelas praias do Havaí e ele provavelmente é desses rolos de 100 metros, uso em larga escala, porque quando cresço vou mais alto que um arranha-céu e ele quando se estica some completamente das minhas vistas.
Depois vieram os conselhos de praxe, tipo: quando ele se esticar, deixe-o porque ele volta com mais força, e mais algumas “pérolas” que segui direitinho. No primeiro “entrevero”, quando seu elástico se espichou, a onda aqui deixou, me sentindo o máximo em matéria de relacionamentos.
Finalmente havia conseguido ter uma atitude adulta e compreensiva, mas qual não foi meu espanto quando meu “elástico” entendeu meu gesto como indiferença e se enfezou. Arrumou as malas e se mandou pra primeira pousada que encontrou pelo caminho e deixou esta onda mais baixa que a superfície de uma poça d’água.
Corri ao meu livro-biblia buscando um conselho que o fizesse voltar e entender meu gesto maduro, correto e exatamente fiel ao ensinamento, mas nada, tudo era um amontoado de teorias de alguém que generalizou o homem e a mulher, sem levar em conta nossas particularidades.
Joguei o livro no primeiro lixo que encontrei enquanto marchava decidida por todas as pousadas, até encontrar meu elástico e puxá-lo até seu último centímetro pra perto de mim, sem deixar que se esticasse novamente.
Hoje, um ano depois deste episódio, continuo onda incontrolável, ele elástico sem fim, mas conseguimos resolver nossos embates sem consultas a outro manual que não seja o que está dentro de nós e que chamamos de coração.

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