O caso já durava há anos, acho que mais de dez, quando tudo aconteceu.
Ela sabia que nunca seriam mais que amantes, nunca a enganara com vãs promessas de cafés da manhã juntos, passeios pela cidade ou feriados. Ela sempre conhecera seu lugar, à margem de sua vida.
Encontrava-a, a principio, todas as tardes. Encontros furtivos e apaixonados em motéis do centro da cidade, onde não corria risco de ser flagrado por algum conhecido. Ela mostrava-se sempre satisfeita com estes pequenos nadas e jamais pedira além do que tinha direito.
Com o tempo, os encontros tornaram-se semanais. O trabalho lhe cansava o corpo e a mente, além dos tantos problemas domésticos da família que crescia em idade e lhe cobrava atenção e presença. Para ser franco consigo mesmo, ele também já não possuía aquele furor do inicio, a não ser por alguma estranha que lhe arrancava da quase constante apatia.
Neste período, a esposa nunca desconfiou, sabia ser discreto e ela, a outra, por sua vez jamais lhe incomodara fora dos horários rigidamente estipulados por ele para que nada saísse da rotina estabelecida.
Casara-se com a primeira namorada, escolhera a profissão meticulosamente, o carro que teria, os filhos, tudo fora cuidadosamente planejado. Depois fora apenas caminhar no sentido que havia escolhido, e assim fora até que ela surgira.
Encontrara-a casualmente numa lanchonete e logo percebera um olhar tão tristonho e melancólico que o fizera relembrar dele próprio adolescente, quando ainda sonhava com inesperadas e fortes emoções.
Puxara conversa e, sem que percebesse, ela lhe reavivara a vontade de se guiar pelas emoções e sonhos de outrora. Barco à deriva, ela fora facilmente conquistada pela força e racionalidade dele, vendo ali o ânimo de que precisava; amara-o incondicionalmente.
Sagitariana, apaixonava-se perdidamente e buscava na coragem daquele ariano o contraponto para sua fragilidade. Se foi amor verdadeiro nestes anos, acho que ele não poderia avaliar, mas o certo é que, sentindo-se cada vez menos dono da razão e ela menos dona de suas emoções, após dez anos, decidiram definir este casamento periódico.
Ele, decidido, caminhou até o lugar onde haviam marcado. Pela primeira vez se encontrariam num local publico, talvez na esperança de que o mundo presenciasse que existiam, que eram reais.
Pensava nas palavras que diria e em como não assustá-la, a cabeça num furacão de frases ensaiadas e que agora lhe fugiam.
Sentou-se no barzinho e ficou à espera por bastante tempo, antes que o garçom lhe trouxesse a carta. Pelo envelope lhe reconheceu a letra, redondinha, parecida com aquelas de professora primária. Ninguém lhe escrevia o apelido carinhoso, apenas ela.
Abriu com um incomodo que não sabia definir, mas era dor.
“Meu amor,
Desde que te conheci...
Houve tempos de chorar,
E houve outros de rir.
Houve dias de chegar,
E houve outros de partir.
Houve horas de gritar,
E houve outras de calar.
Houve momentos de planejar,
E houve muitos de sonhar.
Houve instantes de deixar,
E houve muitos de ficar.
Houve tempos de teimar,
E houve muitos de aceitar.
E houve tempos de amar,
E nenhum segundo de odiar.
Com amor,
Eu
Ps: nos escoramos neste amor e é chegada a hora de navegar em busca de algo que possa hamar de meu; nunca mais à deriva, nunca mais ser além de mim...”
Horas depois ele ainda relia aquela nota de rodapé, num bilhete que começara com amor e se indara em desalento ao pensar no quão pouco lhe valia tantos anos de busca por uma vida que agora não mais queria...
Ela sabia que nunca seriam mais que amantes, nunca a enganara com vãs promessas de cafés da manhã juntos, passeios pela cidade ou feriados. Ela sempre conhecera seu lugar, à margem de sua vida.
Encontrava-a, a principio, todas as tardes. Encontros furtivos e apaixonados em motéis do centro da cidade, onde não corria risco de ser flagrado por algum conhecido. Ela mostrava-se sempre satisfeita com estes pequenos nadas e jamais pedira além do que tinha direito.
Com o tempo, os encontros tornaram-se semanais. O trabalho lhe cansava o corpo e a mente, além dos tantos problemas domésticos da família que crescia em idade e lhe cobrava atenção e presença. Para ser franco consigo mesmo, ele também já não possuía aquele furor do inicio, a não ser por alguma estranha que lhe arrancava da quase constante apatia.
Neste período, a esposa nunca desconfiou, sabia ser discreto e ela, a outra, por sua vez jamais lhe incomodara fora dos horários rigidamente estipulados por ele para que nada saísse da rotina estabelecida.
Casara-se com a primeira namorada, escolhera a profissão meticulosamente, o carro que teria, os filhos, tudo fora cuidadosamente planejado. Depois fora apenas caminhar no sentido que havia escolhido, e assim fora até que ela surgira.
Encontrara-a casualmente numa lanchonete e logo percebera um olhar tão tristonho e melancólico que o fizera relembrar dele próprio adolescente, quando ainda sonhava com inesperadas e fortes emoções.
Puxara conversa e, sem que percebesse, ela lhe reavivara a vontade de se guiar pelas emoções e sonhos de outrora. Barco à deriva, ela fora facilmente conquistada pela força e racionalidade dele, vendo ali o ânimo de que precisava; amara-o incondicionalmente.
Sagitariana, apaixonava-se perdidamente e buscava na coragem daquele ariano o contraponto para sua fragilidade. Se foi amor verdadeiro nestes anos, acho que ele não poderia avaliar, mas o certo é que, sentindo-se cada vez menos dono da razão e ela menos dona de suas emoções, após dez anos, decidiram definir este casamento periódico.
Ele, decidido, caminhou até o lugar onde haviam marcado. Pela primeira vez se encontrariam num local publico, talvez na esperança de que o mundo presenciasse que existiam, que eram reais.
Pensava nas palavras que diria e em como não assustá-la, a cabeça num furacão de frases ensaiadas e que agora lhe fugiam.
Sentou-se no barzinho e ficou à espera por bastante tempo, antes que o garçom lhe trouxesse a carta. Pelo envelope lhe reconheceu a letra, redondinha, parecida com aquelas de professora primária. Ninguém lhe escrevia o apelido carinhoso, apenas ela.
Abriu com um incomodo que não sabia definir, mas era dor.
“Meu amor,
Desde que te conheci...
Houve tempos de chorar,
E houve outros de rir.
Houve dias de chegar,
E houve outros de partir.
Houve horas de gritar,
E houve outras de calar.
Houve momentos de planejar,
E houve muitos de sonhar.
Houve instantes de deixar,
E houve muitos de ficar.
Houve tempos de teimar,
E houve muitos de aceitar.
E houve tempos de amar,
E nenhum segundo de odiar.
Com amor,
Eu
Ps: nos escoramos neste amor e é chegada a hora de navegar em busca de algo que possa hamar de meu; nunca mais à deriva, nunca mais ser além de mim...”
Horas depois ele ainda relia aquela nota de rodapé, num bilhete que começara com amor e se indara em desalento ao pensar no quão pouco lhe valia tantos anos de busca por uma vida que agora não mais queria...
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