quarta-feira, 8 de agosto de 2007

ESTRANHO

Acordou naquela manhã e, logo que abriu os olhos, percebeu que alguma coisa estava diferente. Correu para o espelho tentando descobrir no rosto algum sinal, mas, quem sabe devido aos tantos anos, aquele cristal já não lhe refletia com a mesma limpidez do passado. Nada viu de anormal.
Retirou toda a roupa e começou um auto-exame minucioso em busca de uma pinta, um sinal, talvez uma cicatriz que lhe confirmasse sua mudança durante uma noite tranqüila e bem dormida.
Havia chegado em casa por volta das 22 horas e, como de costume, tomara um banho rápido, correndo depois para o computador afim de ler suas mensagens. Respondeu algumas, outras deletou sem sequer saber do que se tratavam, mas que pelo remetente já imaginava. Pesquisou um site sobre sexo tântrico, a pedido de uma amiga de trabalho que andava interessadíssima no assunto, imprimiu o que achou mais relevante e desligou; o micro e a si mesmo.
Não teve sonhos ou pesadelos, dormiu tranqüilo e direto até o despertador do celular tremer ao seu lado, avisando que estava na hora de voltar ao mundo dos vivos e trabalhadores. Foi quando abriu os olhos que lhe veio aquela sensação estranha. Queria, teria que desvendar o mistério.
Saiu, como de costume, apressado e se prometendo acordar mais cedo pra caminhar tranqüilo os 500 metros que o separavam do trabalho. Nunca cumpria essa promessa, e isso já há mais de 10 anos.
Perguntou a todas as pessoas se estavam vendo algo diferente e recebeu as mais diferentes respostas. Nada, ninguém conseguia enxergar que ali estava alguém definitivamente diferente, mesmo que nem ele próprio soubesse em que, mas que estava, isso era fato.
Passou o resto do dia se olhando cuidadosamente, andando sem parar pela repartição, à espera de que alguém lhe notasse a mudança e acabasse por alertá-lo, mas nada aconteceu. Foi embora no final da tarde, com a sensação de que carregava consigo um estranho, com o qual sentia-se pouco à vontade.
Foi somente quando, em meio à costumeira cervejinha do final de tarde, seu celular tocou, se deu conta do que havia mudado.
Havia se esquecido “dela”, não se recordara durante todo o dia daquela a quem vinha dedicando seus dias, noites e sonhos; a partir daquele dia, ao abrir ou fechar suas pálpebras, entrando ou saindo do mundo dos sonhos, aquela imagem não seria mais sua companhia.
o amor tinha acabado. O peso havia sido retirado do peito. Era um estranho de si mesmo, mas por pouco tempo, disso tinha certeza...

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