quarta-feira, 8 de agosto de 2007

EPIFANIA

Sentado, olhando as próprias mãos ao volante, ouvia a música e deixava que seus pensamentos corressem livres, como ele mesmo se sentia naquele momento.
Pela janela do carro, olhava a alameda congestionada de carros, hora do trânsito mais intenso, final de tarde, todos com pressa de chegar em casa depois de um dia estressante. Ele, ao contrário, tranqüilo depois de um dia sem trabalho ou preocupações. Não eram férias, mas parecia.
O som da música o prendia, fazia-o triste, melancólico, talvez prenúncio de dores. Não fora escolhida, tocava numa rádio qualquer, mas parecia encomendada à situação. Cantava adeus, dizia fins.

“quero que você me faça um favor, já que a gente não vai mais se encontrar”...

Nos sinais, tirava a atenção do trânsito e buscava aqueles olhos que pareciam ler seus pensamentos mais escondidos. Nada lhe escapava, sabia que ela já pressentira que aquela seria a primeira e última vez que estariam juntos. Sem perspectivas futuras, só restaria a música.

“cada um dentro do seu mundo navegando contra a solidão”...

Horas mais tarde, já tão distante, ainda vivia aquela cena, ainda ouvia a música, sentia aquelas mãos e olhos que traduziam sua alma. Apertava-lhe o peito, sufocava o choro.

“me perdi, me esqueci dentro do seu mundo, procurando a vida com você”...

Anos depois, quando a lembrança o toma de surpresa, a primeira sensação é de ouvir a música.

“mesmo que as pessoas lembrem de nós, mesmo que eu me lembre desta canção”...

Hoje, o que restou foi uma saudade dolorida que, cada vez mais raramente, surge para lembrá-lo que aquilo que um dia considerou um interlúdio de amor, foi o maior desencontro com o qual se deparou.

“hoje não, cada um dentro do seu mundo navegando contra a solidão”...

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