Sentada na varanda e olhando a noite barulhenta de trovões, amassava entre as mãos o bilhete que vinha trazendo consigo há dias. Não era recente, ao contrário, datava de mais de um ano atrás, quando sua vida era outra bem diferente desta, quando ela própria era outra, o que talvez explicasse o apego ao pedaço de papel.
Olhava o céu e novamente desamassava e relia o pequeno trecho que sobrara da folha gasta...
“...24 dias por hora tenho vivido a cada “oi” seu, a quanto tempo não nos falamos, saudade louca, qualquer bilhetinho no embaçar do espelho do banheiro, vira relicário.
O que é isso, como eu gosto de você, isso não é humano ! 24 dias por hora é o tempo de você estar impregnando meus pensamentos com suas manias e trejeitos, seu nariz arrebitado e a boca doce, docinha, deve ser o açúcar das balinhas alemãs...”
Relia as poucas palavras e voltava-se novamente ao céu, parecendo à espera de que, entre os trovões, viessem outros bilhetes, outras cartas que lhe devolvessem aquele brilho perdido, mas elas nunca mais vieram e isso era fato.
Nem entendia o motivo do apego ao tal bilhete nos últimos dias, afinal muito tempo decorrera e em seu coração as dores há tempos haviam se transformado em cicatrizes; sensíveis ao toque, mas cicatrizes.
Ao acordar, apalpava a cama à procura do papel e, a partir daí, em tudo que fazia ele estava por companhia. Encontrara-o por acaso, enquanto buscava naquela gaveta nunca mais mexida, um recibo antigo e, depois de reler a primeira vez, a coisa tornou-se vicio.
Sorria, chorava, se enchia de lembranças e pensava no quanto um papelzinho pode mexer e revirar uma vida aparentemente tão tranqüila e sossegada. Sentia que se se descuidasse um segundo que fosse, aquele papelzinho se tornaria real e tudo retornaria, com a mesma força de antes, tanto de alegrias como de dores.
Considerava-se curada de tudo aquilo e não seria agora que teria uma recaída, mas a vontade de discar aquele número nunca esquecido era forte. Quem sabe ouviria a mesma voz rouca e dengosa que, em outros tempos, a fazia derreter-se como gelo no sol, mas também poderia escutar uma outra voz de seda que, neste momento, seria a musa dos sonhos de alguém.
A vontade de reabrir a antiga gaveta era grande, mas o medo a impedia. Medo de reviver e descobrir-se ainda no passado, esperando por algo que já se tornara coisa finda há tanto tempo. Não tinha motivos pra desejar esta volta, era feliz agora em sua tranqüilidade. Nunca mais dores, nunca mais furacões e terremotos; agora sua vida era de paz e calmaria.
A chuva desceu forte, lavando os morros e limpando a poeira das árvores. No céu os raios clareavam o mato tombado pelo peso das águas. Um dia se tombara também, mas hoje, reerguida, não pretendia ver-se frágil como naqueles tempos. Hoje era forte e não se curvava diante de mais nada; virara pedra.
Releu mais uma vez o bilhete, apertou-o contra o rosto molhado e depois abriu-o, como em ritual, sob a chuva que lavou sua tinta e desfragmentou seu papel, levando com ela toda e qualquer possibilidade de retomar; o bilhete, a pessoa que fora ou o amor...
Olhava o céu e novamente desamassava e relia o pequeno trecho que sobrara da folha gasta...
“...24 dias por hora tenho vivido a cada “oi” seu, a quanto tempo não nos falamos, saudade louca, qualquer bilhetinho no embaçar do espelho do banheiro, vira relicário.
O que é isso, como eu gosto de você, isso não é humano ! 24 dias por hora é o tempo de você estar impregnando meus pensamentos com suas manias e trejeitos, seu nariz arrebitado e a boca doce, docinha, deve ser o açúcar das balinhas alemãs...”
Relia as poucas palavras e voltava-se novamente ao céu, parecendo à espera de que, entre os trovões, viessem outros bilhetes, outras cartas que lhe devolvessem aquele brilho perdido, mas elas nunca mais vieram e isso era fato.
Nem entendia o motivo do apego ao tal bilhete nos últimos dias, afinal muito tempo decorrera e em seu coração as dores há tempos haviam se transformado em cicatrizes; sensíveis ao toque, mas cicatrizes.
Ao acordar, apalpava a cama à procura do papel e, a partir daí, em tudo que fazia ele estava por companhia. Encontrara-o por acaso, enquanto buscava naquela gaveta nunca mais mexida, um recibo antigo e, depois de reler a primeira vez, a coisa tornou-se vicio.
Sorria, chorava, se enchia de lembranças e pensava no quanto um papelzinho pode mexer e revirar uma vida aparentemente tão tranqüila e sossegada. Sentia que se se descuidasse um segundo que fosse, aquele papelzinho se tornaria real e tudo retornaria, com a mesma força de antes, tanto de alegrias como de dores.
Considerava-se curada de tudo aquilo e não seria agora que teria uma recaída, mas a vontade de discar aquele número nunca esquecido era forte. Quem sabe ouviria a mesma voz rouca e dengosa que, em outros tempos, a fazia derreter-se como gelo no sol, mas também poderia escutar uma outra voz de seda que, neste momento, seria a musa dos sonhos de alguém.
A vontade de reabrir a antiga gaveta era grande, mas o medo a impedia. Medo de reviver e descobrir-se ainda no passado, esperando por algo que já se tornara coisa finda há tanto tempo. Não tinha motivos pra desejar esta volta, era feliz agora em sua tranqüilidade. Nunca mais dores, nunca mais furacões e terremotos; agora sua vida era de paz e calmaria.
A chuva desceu forte, lavando os morros e limpando a poeira das árvores. No céu os raios clareavam o mato tombado pelo peso das águas. Um dia se tombara também, mas hoje, reerguida, não pretendia ver-se frágil como naqueles tempos. Hoje era forte e não se curvava diante de mais nada; virara pedra.
Releu mais uma vez o bilhete, apertou-o contra o rosto molhado e depois abriu-o, como em ritual, sob a chuva que lavou sua tinta e desfragmentou seu papel, levando com ela toda e qualquer possibilidade de retomar; o bilhete, a pessoa que fora ou o amor...
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