sábado, 4 de agosto de 2007

PENSAMENTOS DE UM DIA CHUVOSO

Dias chuvosos como este me fazem retornar à infância.
Tempo de alegrias, de não-ser, não-sofrer, tempo de viver cada dia. Sem passado e olhando o futuro como nuvem branquinha em céu azul de maio; como o céu de maio é lindo! Não há azul tão azul como o céu neste mês.
Meus primeiros pensamentos em dias assim voltam-se para este período tão lindo da minha vida. Depois eles começam a caminhar, feito bebezinho dando os primeiros passos, rumo a um passado menos remoto. Acabam chegando a lembranças nem tão felizes de um dia feito este. Um dia tão triste que logo me pego correndo dali como quem corre das sombras escuras no vão da escada. Não quero ficar ali. Este lugar me faz sofrer...Saio correndo.
Corro. E corro tanto que acabo parando somente aqui, de volta a este tempo onde apenas reaprendo o sentido de caminhar, onde o ato de olhar somente à minha frente me custa enorme sacrifício de forças.
Chego aqui com as energias quase esgotadas. Chego e não quero ficar. Quero crescer. Quero voltar a ter a alma da criança que fui. Onde a perdi?
Somente quando reencontrá-la me tornarei completa. Somente de volta àquela criança me sentirei adulta. Mas ela se perdeu em algum momento da minha jornada em busca de algo que imaginei existir.
Quase a sinto perder-se. Quase ouço o barulho de seus passos afastando-se de mim. Posso sentir seu adeus tristonho àquela que fui.
O caminho de volta é doloroso demais, quase me faz desistir a cada tropeço. Ele vem carregado de emoções e desejos e medos e outras vidas que quase não reconheço como minhas. Mas sei que ele é necessário se quero voltar pra conseguir seguir.
Olho lá no fim da estrada. Vejo-me sorridente esperando. Sinto-me forte ao fim do caminho. Falta tão pouco ! E aquele sorriso de criança me chama com tanta força !
Me espere criança. Estou quase chegando ! Não se apague antes que eu te alcance. Sei que posso. Tenha paciência criança, com esta adulta que te esqueceu. Ela quer resgatar você para sentir-se completa novamente.
A estrada está no fim... Falta tão pouco... Já sinto que me perdi na poeira do tempo... Já sinto quase morta aquela que fui, aquele não-ser que o tempo cinzelou e que agora se rebela...
Crio asas... vôo.
Crio ilusões... alço-me aos céus.
Crio amores... mergulho no infinito.
Crio esperanças... encaro a vida.
Finalmente me torno pessoa voltando a ser criança.

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